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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Efeito Borboleta

Setembro 21, 2007

A brisa suave,
Da fresca manhã,
Inspira-me versos,
Para um amanhã.
 
O céu violeta,
Inspira-me flores,
A Lua discreta,
Refrescam amores.
 
O rio que correndo,
Escuta o que traz,
Gaivota rasgando,
O silêncio voraz.
 
Loureiro crescendo,
Inspira-me a glória,
E nada acontece,
Não vivo uma história.
 
A história que é minha,
Traz-me lembranças,
De cisnes tão brancas,
Risos de crianças.
 
Os olhos mais claros,
Iluminam pontes,
Feitas de pedra,
Beijando horizontes.
 
As ondas do mar
Batendo na rocha,
Acende no ar,
Em alma uma tocha,
 
Na veia percorre,
Meu sangue de vivo,
Vermelho tão quente,
Dum ser redivivo.
 
O túmulo acorda,
Desperta-me, algoz
De ilusão, fecunda
Ter a Morte voz,
 
A voz que murmura,
Punhais afiados,
Destinos profundos,
Sem cantos, sem lados.
 
Tapando os meus olhos,
Vejo o que não quero,
Sem algum esforço,
Vejo o mar de Homero.
 
Por isso me deixo,
Com o vento tão leve,
Tão puro e suave,
Como tu, como a neve.
 
Alva borboleta,
Pisando na flor,
Retira-me versos,
Cândidos de Amor;
 
Esconde-se esquiva,
À espera do nada,
Que envolva o jardim,
Sem olhos, sem guarda.
 
A abelha beijando,
A flor que se inclina,
O nectar levando,
Laborosa, digna.
 
Perante a abelha,
Se curvam as flores,
Perguntam, que tenho?
Estou louco, Senhores.

ABC Poético

Setembro 20, 2007

A
 
Arte, mundo alto onde homem se eleva
Nos monásticos dias de cansaço,
Sublime cor repele a escura treva
De amplas asas abre, lúrido abraço,
E diariamente neste ar que respiro,
Adverso mundo, enfim, é meu retiro.
 
Ares, belicoso, em fúria ardendo,
Exausto da peleja foi ter com,
A brônzea ,bela Afrodite, cedendo,
À força de Eros, ao feminil dom.
Da guerra, a humana gente respirava,
Porque Ares com Afrodite amansava.
 
  
B
 
Beethoven, sua nona sinfonia,
Ferindo a terra o deus do mar Neptuno,
Prolonga o som gigante no meu dia,
Tornando a minha alma com meu corpo uno.
Pois creio em quem crê, olha além dos montes
Escuta o cristalino som das fontes.
 
C
 
Camões, da poesia lusitana,
Tem luz do louro Apolo que derrama,
Os versos de ouro honrando alva Diana
Lhe concedendo a glória, a palma, a fama.
Naquela Ode de pranto e cor contido,
Da cor de prata o Tejo seu rendido.
 
D
 
Dafne, por primeiro amor de Apolo,
Nada cumpriu, além de amor vencido,
Cativa a bela ninfa em fértil solo,
Viu seu corpo em loureiro convertido.
De Cupido lançar setas douradas,
Já quantas ninfas foram transformadas?
 
E
 
Eros, avistando a bela dama,
Numa floresta, incauta dele andava,
Perdida por paixão ardente, a chama,
Que amargura no peito lhe causava,
No Tempo incauta, sem sonho e esperança,
Lembrou-se o deus dar-lhe o dardo que amansa.
 
F
 
Faetonte convenceu nimbado pai,
Ceder-lhe, por momentos, carro ardente,
Empalidece o rosto Apolo e cai,
Na convicção do filho persistente.
Foi vítima a Terra desta imprudência,
De quem não meteu mão na consciência.
 
G
 
Górgonas, vestidas de tormenta,
Que espalham sobre a Terra horror, andavam
Pelos jardins de Vénus que lhe ostenta,
Lívida fronte, à frente caminhavam.
Porém, do vago olhar que a deusa tem,
Tremeram como quem treme também.
 
 
H
 
Haendel vem soando sempre a festa,
Dos anjos, oratórias, de água, jogos,
Cantando a vinda dum Messias, resta
De artifícios, enchendo o céu de fogos.
Explode cores dentro de mim quando,
Com versos coloridos vou sonhando.
 
Helena da beleza detentora,
De mil graças maneiras, revestida,
De ricos mantos de cores que adora,
Tão fútil, por Páris amada e querida.
Beleza da mulher que ao espelho é arte,
Dançante fogo alastra em toda a parte.
 
 
I
 
Io, inocente e bela ao sol andava
Colhendo flores mimosas na floresta,
Insciente, em sua sorte confiava,
Que à tenra mulher candura lhe empresta,
Mas – talvez por doce odor virginal,
Um deus dos céus desceu, trazendo o Mal.
 
 
J
 
Juno sabia mais do que seu esposo,
Júpiter, descuidado em seus amores,
Jano, na paz na guerra monstruoso,
De Bem e Mal todos eles dadores.
E atento ouvinte o Homem de Prometeu,
Deseja mais encantos de Proteu?
 
Já me entra um ar suave na manhã,
Quando vejo o sol com ares de medusa,
Sair da Aurora, o róseo barbacã
Cativo amante Apolo lhe recusa.
Bastou um só instante e se elevava,
Que o sol, desde última vez baixo estava.
 
L
 
Liszt ouviu diabólico italiano,
Rápido qual raio no violino,
Lembrou-se, em sua glória, ser tirano,
No piano, seu reinado de menino.
Quem vi pra que ascende-se à minha glória,
Que eco meu persiste na humana história?
 
M
 
Mozart, que grão mestre de capela,
Tão cedo foste, eterno em tom Maior
Com “Júpiter” perfumo o ar, a mais bela
Sinfonia, raro em ti em tom Menor.
Ouvir-te obra completa sabe a pouco,
Sonhar-te inacabada obra é de louco.
 
N
 
Noite, a deusa grega envolta em manto,
De ébano espesso, vem e me transforma,
Felino, esquivo à noite, estreito canto,
Trémulo, verso ganha poema forma.
Nemésis, vem! Imprime em meu papel,
Isto que tenho em forma de acre fel.
 
O
 
Orfeu, alando a voz - divino - à lira,
De prata, encantava duros penedos
Dançando numa dança que respira,
Sombrio ar de infernais ares, medos.
Talento, traz audácia e a liberdade,
Penetra fundo a pedra, a Humanidade.
 
P
 
Perséfone, belíssima, passeava
Pelos jardins colhendo incauta flores
Hades, por ela se apaixonava,
Raptou-a abrindo a Terra de fervores.
Beleza atrai, anel que tenta e acode,
E porque é deus de Inferno o próprio pode.
 
Pandora, abrindo a caixa, curiosa,
Nas veias sangue vivo borbulhava
A ânsia de criança a fresca rosa,
E todo o Mal deste Mundo espalhava.
Quem toca em que não deve e abre, ofende
Verdade oculta, a escura mão lhe estende.
 
Q
 
Quíron devorava a sabedoria,
Entre centauros loucos e indomáveis,
Brilhante, solitário que vivia
Tornando heróis antigos mais amáveis.
Aquiles, tendo ao sangue amor vermelho,
Curvava, único, a fronte ao ser mais velho.
 
R
 
Reia, Mãe dos deuses, Mãe das mães
De idílicas e lascivas orgias,
Afasta os filhos seus quais bravos cães,
Lançando das montanhas, profecias.
Mãe, desde o início do Tempo existente,
Travou loucura a Cronos dos céus doente.
 
S
 
Semele, por Zeus perdoada dos Infernos,
De ígneos olhos, diamanta a luzir,
Salgando os olhos de olhares tão ternos,
A mente palmilhando pra fugir.
Porém, honrada pelo alto pontífice,
Perdão, nunca o deus à deusa lhe disse.
 
T
 
Témis, no Tempo esquecida, oculta,
Verdade que lhe pende na balança,
Justiça: nobre farto o fraco culpa,
Perante o forte, insufla, ao fraco esperança.
Revolve, ondas do mar, revolta em bruma
Justiça às praias brancas traga alguma.
 
Tétis, de diáfano véu lindo,
Deixando entrever as mais belas partes,
Destino perpetua ao que vem vindo,
Aquele que prefere da guerra as artes.
Mãe que dá vida a quem ceifando vidas,
Vai, por vã glória e fama apetecidas.
 
U
 
Ulisses, entre os homens capcioso,
Única deusa Atena o auxiliava,
De corpo e astúcia forte e vigoroso,
Pela pura esposa e filho chorava.
Calipso amava-o mais que a própria Vida,
Mas nem por isso Ulisses se endivida.
 
 
V
 
Vénus, traz-me mais práticas tuas,
Empresta-me os encantos que ensinaste,
Com Marte, empresta essa arte com que actuas,
Que uma vez só, o coração lhe amansaste.
Olhos vagos, graça de ave exótica,
Bela, sensual, selvagem, louca, erótica.
 
X
 
Xerxes, abominável, pretendia,
Como um deus do vazio, ser adorado
Esparta, com trezentos nada ouvia,
Vale um por mil, mil por um detroçado.
“Espessa sombra em setas, sol tapava...”
Que importa? Esparta, a pátria, não deixava.
 
Z
 
Zeus, supremo, de olhos coruscantes,
Tanto Tempo sentando no seu trono,
Convocava irmãos divinos e brilhantes,
Mas cedo, ouvindo-os, se entregava ao sono.
Quantas bocas chamaram por Seu nome,
Enquanto Zeus saciava a sua fome?

Fortuna

Setembro 18, 2007

Pareço, à noite, um vigilante atento,
Guardando a nau, à espera de ver Terra
Atento à tempestade se nos ferra,
Seu insciente e amargo pensamento.
 
Durante o dia, oposto é o sentimento,
Meu estro, exausto, imundo, muito emperra,
No lúgubre sentimento de guerra...
Paira uma névoa espessa de tormento...
 
Meus olhos são falcões que à noite lanço,
Beleza etérea trazem, e ao sono avanço
Corro ao morno leito só pra dizer-te:
 
"Posso na noite arcana recordar-me,
E unidos, nos nus versos, encontrar-me
Co' a minha Fortuna de amar-te e ter-te.
 

Soneto erótico

Setembro 13, 2007

Teu cheiro doce a nardo, flor mimosa,
Transporta meu agudo e vil desejo
Tactear-te os doces seios cheios. Beijo
Mordente em tua pétala gulosa!
 
Teus olhos são fecundos, e formosa
A tua graça asperge áurea luzente,
Deixa-me entrar em ti suavemente,
No róseo acetinado, flor dengosa.
 
Em volta brama o acto antigo e alado
O lácteo leito morno e perfumado
De beijos, rendições, vagos gemidos;
 
E os corpos nus, salgados, dedilhando
Habilidosos dedos vão espalhando,
Sublime despertar dos meus sentidos.

O Rouxinol

Setembro 12, 2007

Tão radiante rouxinol cantava,
Entre a verde folhagem que trazia,
A melodia nítida e tratava,
De me cantar durante a noite e dia.
Mas de repente seu canto cessava,
Clarões iluminavam a Terra inteira
A tempestade ao longe anunciava,
Que era potente, ousada e verdadeira.
Primeiros ventos à frente mandava,
Uivar, para que o mundo recolhesse,
E ao céu a cor da Morte lhe emprestava,
Cor de escuras flores que colhesse.
 
Quieto o rouxinol já não trazia,
A cor de alva alegria que emprestava,
As calorosas noites de poesia,
De versos que escrevia e me lembrava.
Estremeci ao ver que o céu jazia,
Na tumular borrasca que sonhava,
Escoar a gente humana que dizia:
“Vai chover tanto!” E a chuva desabava,
Impiedosa, em gotas grossas. Via
Lúgubres cores que no céu espalhava,
E a Terra, atenta e quieta, dividia,
A gente, que no sono se embrenhava.
 
De súbito do rouxinol lembrei,
Que a tempestade, a força lhe afrouxava
Da janela do lar, por ele esperei
Ouvindo atentamente se cantava,
Mas não vinha. E então, eu me deitei,
E no mundo dos sonhos mergulhava.
Nascia o dia, a Aurora, e bocejei,
Porque o sono, na alma se colava.
Mas eis, com a luz clara, eu despertei,
Com canto conhecido e me espalhava,
A esperança de voltar a ver e pensei,
Que novamente, o rouxinol cantava.

Fruto amargo

Setembro 11, 2007

Ligando a pena à mente, o que consigo,
Lançar pedras no mar do esquecimento,
Pintar o magro e branco pensamento,
A cor que extraio quando estou contigo.
 
Torpor cansado é meu pior inimigo
Das erguidas muralhas que sonhei,
Dos leitos de cetim que não deitei
Não vejo as amplas praias no que digo.
 
Se eu fosse um doce fruto proibido,
Que colhido, amargo mais tarde volve,
A dor da liberdade que se tem;
 
Seria neste imenso espaço lido,
Neste embalar dulcíssimo que envolve
À espera que alguém venha... e ninguém vem...

Latejares

Setembro 07, 2007

Um vulcânico pulsar tão ardente,
Tamanho espaço igual ao vasto céu,
Espalha p’lo meu corpo um frio, um quente,
A sensação que o verso não é meu.
 
Apresso-me, sem saber bem porquê,
Maestro, à orquestra imprime passo apressado,
Que dentro toca em mim e ninguém vê
Pra sempre um monumento inacabado.
 
Quem me dirige a mão, o gesto, a pena,
E, verso a verso, o que sinto murmura,
Não sei! Mas delicado tem ternura,
Sentindo a minha alma ainda pequena

Língua, que espinhos tem como as rosas...

Setembro 07, 2007

Língua, que espinhos tem como as rosas,
Sangrentas, quando colhes e a mão feres,
Que além das mais formosas flores, glosas
Os magros versos que lê-los, não queres.
 
Saber eu transcrever ríspidas prosas,
Delícias que tu tens pra me dizeres,
Amor que fere a mão espinhosa, rosas
São glória de mandares, de prazeres.
 
Rainha das raposas, das serpentes,
Imperatriz das aves de rapina,
De afiadas garras que poisam nos ramos;
 
Cessa o discurso! Passa p'los teus dentes,
Punhais brilhantes que nada me ensina,
Além do que um ao outro não cantamos.

A flor

Setembro 07, 2007

Espreito, pra dentro da frágil flor,
Tão casta, que parece que vem ver-me
Perfume a dália, a lírio, outro licor,
Que nela me parece que a flor quer-me.
 
Suaves pétalas têm seu rigor,
De Inverno, tem capricho que vencer-me
No trato, o jeito, o gesto a seu dispor,
Deixando, a doce imagem, a entreter-me.
 
Flor rubra, abre-me as pétalas mimosas,
Deixando ver-me um mundo tão pequeno,
Sem pressas dolorosas de amanhã!
 
Imperatriz, entre mil cores, rosas,
O teu conforto é qual leito de feno,
A voz que inveja a flauta do deus Pã.

Diana descoberta

Setembro 05, 2007

Parece, deusa inerte em branco espaço,
Donzela, abraço hiante de perdido
Radiante, renasce meu torpor,
Lamento não poder chamar-lhe Amor.
 
Espreito pela brecha, o cortinado,
Cuidadosamente afastado, vejo-a,
E beijo-a devagar em minha mente,
Que Amor este, a Fortuna, não consente.
 
Se Acteon sou, Diana ela é banhando-se,
Mirando-se no espelho, ingénua e branda,
Que manda a graça de nobre mulher,
Que dar-me Amor na Vida não me quer.
 
Os seus cabelos lindos e compridos,
Perdidos sobre os ombros delicados,
Que cinzelados foram por artista,
Que Amor não pode dar-me mais que a vista.
 
Os olhos, duas pérolas brilhantes,
E penetrantes que perfuram almas,
Mesmo aquelas mais calmas semelhantes,
Aos que a paixão ascende a almas errantes.
 
Mas quedo fico, lasso nos seus traços
(Que abraços dão-se em mente quando longe,
Qual isolado monge na montanha),
E assim nada consente a vida. Estranha.
 
Virando-se, sorri-me graciosa,
Como a rosa recebe a água pura.
Que olhá-la, dá ternura, asas batendo,
Mirá-la sem beijá-la, vai doendo.
 
Carnal fluído, o sangue ferve dentro,
No centro dum vulcão adormecido,
De andar assim perdido não me importa,
O Vida. Deixa entrar: abre-me a porta!
 
Vestido no corpo se abraça e oferta,
Desperta o seio, dando a graça enorme,
Aperta a fome, a boca hiante ausente,
Do beijo que sonhado, a Vida mente.
 
Comprime o peito olhá-la, linda, airosa,
Não rosa, mas ave voando os céus,
Não sendo meus, sonho um dia alcançá-los,
Que audazes vai a Fortuna, ajudá-los.
 
Subitamente, num estrondo manso,
Me canso de sonhar este perigo,
Da terra me desligo e vou guardando,
O que a vida me vai, bondosa, dando.

O teu seio

Setembro 04, 2007

A forma como exibes o teu seio,
Tão fresco, brônzeo, liso e delicado,
Faz com que sofra e passe um mau bocado,
Levado pelo vento, doce enleio.
 
Repensa teu ardil, porque teu veio,
De viva estátua, génio enamorado
Descreve a fatal curva, e assim cantado
Teu seio é um verso escrito que amo e leio.
 
Mas já o sol estende os braços de ouro,
E o nevoeiro, espectros, os espanta,
E o sol do meu Amor é minha cura;
 
Porque me afasta imagens, mão de santa
Só guardo imagem doce qual tesouro,
Perdido e abandonado em terra dura.

Meia Lua

Setembro 03, 2007

O que há, para além do véu imaculado,
Da Lua, mesmo quando brilha imunda,
Doente, banhando o rio ausente,
De plácido caminho sobre a Terra?
Que encerra, além do rio, além das estrelas,
Velas acesas palco tão fecundo,
De contemplações livres me deixando,
Pendente, na escuridão ancestral,
Breve, como se fosse guardião,
Votivo a todas elas, preso à guarda
Em riste, afiada lança com que escrevo.
Dos astros servo, escravo das crianças
D’ esperanças que eles lançam com sorrisos,
Luzindo, celebrando mais a vida,
Que vivas pedras de olhos enrugados,
Fruto do próprio torpor que plantam.
A cada verso, é uma mágico sorriso,
Guerra de luzes, qual a noite e dia,
Repartido, pelos filhos de Latona,
E em cada canto em mim há sol, à Lua,
Há treva, há madrugada, há noite escura,
Há uma espessura negra e reluzente,
Qual rutilante espada que espantando,
Demónios do passado espanta. E a lira,
Num leito ocioso, entregue ao abandono
Desleixo de quem se entregou à vida.
Qual vida é esta? Que obras nós deixamos,
Porque se aprende se tudo enfim, finda
Ao vento, espalho o canto pela gente
Remexendo o solo sagrado da terra,
Colhendo nas florestas fruto amargo,
Doce só por ter sido colhido.
Proibido? Quem o pecado inventou?
Quem, perante leis, declara:
Agora: Isto será Bom, isto será Mau,
Se o Bem e o Mal os dois fazem Amor,
Com escárnio, rindo da humana gente,
Constantemente em Outonos vivendo
O renovar das folhas, se varrendo
Com cinzas, desvanecem com os ventos.
Qual pétala se abre quando Apolo entra,
Sendo célere amada e alegre fica,
Assim minha fronte enrugada curvo,
Perante ao que não sei, ao que não sou.
Fico pendente em tudo que interrogo
Sentimento vasculho em mim qual deusa,
Artémis, alvo melhor procurando.
Meu coração foi extinto ou El Dourado,
Que aterra, hiante, a boca sua abriu
Nem pedra sobra em mim que testemunhe,
Quem sou, espessa sombra do que fui.
Parece ouvir um sino. Num estrondo,
Surge-me no coração de pedra,
Fragilidade oculta em minha mente,
Soando, enfim, nas minhas horas mortas.

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