Invocação
Agosto 31, 2007
Dá-me agora, Musa, a cor das rosas,
Das tílias, das violetas, das liláceas,
Dá-me a candura das belas violáceas,
Na Primavera, vivas e formosas.
E dá-me argento, quando Apolo claro
'svazia aljava sobre o mar ausente ,
O deslizar do cisne suavemente,
Dá-me a cor que torne o verso raro.
Dá-me a cor do medo, Amor, bondade,
Tristeza; dá-me todas essas cores,
Concede-me o Universo. São favores
Que peço: inspiração e liberdade.
Tenho alma, tela branca pra pintar,
De música, papel para compor,
Arte para espantar seco torpor,
Subindo em ânsias para te embalar.
E o embalo desse vento mavioso,
Sorrindo sobre os teus longos cabelos,
Vão sendo, em ondas másculas, novelos,
De Inverno, se agitando, rigoroso.
Dá-me esse brando gesto, fino e puro,
Que do teu belo rosto, sai voando
Como aquela pomba branca esvoaçando,
Num jeito humano, trémulo, inseguro.
Concede-me o compasso do teu nobre,
E altivo coração duma rainha,
Tíbio ficando, quando me convinha
Deixar-me ir na cor com que a noite encobre.
Dá-me o tom das rubras faces quando,
Gracejo sai da minha alma tão louca,
Quando a minha vai de encontro à tua boca,
E juntos nossos corpos flutuando.
Encurta-se-me o tempo, meu encanto,
Anjo caido dum céu matizado
De estrelas cintilantes, condenado
A ter de prata, dela o doce pranto.
A rósea Aurora já vai bocejando,
Do morno leito se ergue para abrir,
As portas para Apolo reflectir,
A cor que um grande Amor a nós vai dando.