Já vai descendo o sol no horizonte, A Lua alegre no Céu vai subindo De prata, lança um manto sobre o monte, A luz que emana do teu rosto lindo. Vem ver comigo a noite que vem vindo, Como escorrendo fresca água da fonte, Vendo iluminada ao longe a ponte Banhando-se no rio que vai sorrindo. Que bela a harmonia do universo! Qual ser que não fica nele submerso Debaixo dum olhar vago da Lua? Sentindo a gratidão por ter-te ao lado Fico, num doce êxtase, mergulhado Entrelaçando a minha mão na tua.
Não sei porque me invade esta tristeza, Nem sei qual fonte brota este licor, Amargo, como não deter certeza Sobre a verdade, sobre o Ódio e o Amor. Sei que sinto somente esta dor, Que me enfraquece a fraca natureza Tem a elegância, tem a subtileza Turvando a minha alma, a minha cor. À sombra das árvores desgrenhadas Vagueio inutilmente acomodado No ritmo andante frágil dum mendigo; As minhas crenças parecem-me erradas Tornando-me indistinto o próprio fado E dizer o que sinto, não consigo.
Passaste jactante, nada disseste Nem cumprimento, um olhar esboçaste Um encolher de ombros me ofer'ceste Não te falei?! Claro que não falaste. A máscara quebrada que usaste, Serviu-te de muralha. Defendeste, Melhor que no Inverno alto cipreste Não te beijei?! Claro que não beijaste! Podes passar como chaga ou fantasma Sorrir, escarnecer ou nem falar, Como quem, sobre nada, nunca pasma. Mas quem te quer ouvir também falar? Teu aborrecimento é um miasma A negra peste num seio a alastrar.
Por mais que em vão insista em ignorar-te, Por mais que a razão chame e não me tente Não posso amar-te mais abertamente, Ficando deleitado ao contemplar-te. No coração, a rédea. Ao adorar-te Ateio o sentimento em mim dormente Ilusão teu mundo ser diferente... Que louves meu silêncio em vão honrar-te! Teu corpo gracioso é meu tormento E só no pensamento eu posso amá-lo Nas praias amplas deste envolvimento. Talvez possa deixar-me ir neste embalo, Na eternidade, e que não deixe o vento Esta minha constância ao procurá-lo.
O povo é Deus que dá a fama e tira, Que alguém admira, adula, gasta e ama Que eleva nome algum aos céus da fama Que ao mesmo nome seu ouro retira. Juíz o povo: um feito grande admira De artista, guerreiro, ou gesto de dama Que facilmente um nome lança à lama, Que facilmente alguém do avesso vira. E eu, que tanto aspiro à fama e glória, Não ignorando o eco à minha história Deixo de amar quem me faz ser ditoso; E eis que perco a tudo o amor, vontade... Vejo na minha amada a divindade, Pois conquistá-la é um feito glorioso.
Livrar-me deste fardo tão pesado, E ver no Além distante a eternidade, Não chega pra assumir uma verdade Não chega para encarar negro fado. Sorvi um bom momento, um mau bocado, Voei duma quimera à realidade, Ouvindo uma nova tonalidade De amar e poder ser também amado. Mas mais do meu poder, mais do que resta Que humilde verso brota ingente fonte Nas escarpadas rochas dum poema Não tem sublime ardência e já não presta Fixo os olhos vagos no horizonte E espero no amanhã por melhor tema.
Meu verso trabalhado em ferro ardente, Empresa de poeta tão esforçado Beleza, fonte seca e... nada em mente, Que amanse a fúria deste triste fado. Dos barcos, onde assíduos passageiros, Navegam venturosos noutros mares Vejo-os, não parecendo verdadeiros Nem levam liberdade em seus olhares. Pendente no universo vasto, canto Beleza inefável bebida em dia Mas hoje causo nojo só. Portanto Meus olhos fecho e ...não há poesia! Pois esfarrapado verso anda andrajoso E o mendigo estro olha-me hoje ocioso.
Confusos somos, meu estimado amigo Impuros, distantes da natureza, Ignoro se há pureza no que digo, Como correndo o rio brando em certeza. E no que escrevo e sinto Verás em vão se minto, Como querer ao verso imprimir, Uma grandiosidade, Ecos na eternidade E ver o nosso nome refulgir.
Umbroso coração, espessa folhagem Cantando quando o vento vai e vem, De súbito, uma turva e negra imagem Um vasto mar oculta o que nele tem. E nele mergulhar, Bem podes encontrar, Míriade de segredos tão profundos, Mas emudece fora, Uma sereia chora, Que almas encantam em poucos segundos.
E nesse olhos que tu mergulhaste, Vasto mar que louco contemplavas Na imensidão, incauto, não lembraste Se a pura liberdade respiravas, E dizem-nos, instintos, Desejos indestintos, Que estrelas cintilando em vão nos guiam Mas no teu coração, Plantou-se uma ilusão E à volta lindas flores floresciam.
Seus traços decoraste, o seu perfume, O andar, os gesto musicais, olhares E do prazer, fizeste o teu costume Do fruto doce, desejo provares Mas subiste, porém À árvore que tem, Maior sabedoria, e atrevimento Dos deuses ignorando, Com o fruto sonhando, Maior na ousadia e sentimento.
Ó proibido (sem sequer que exista), Proibe a mente mais que a alma inteira Aclara à Humanidade cega a vista, Porque amigo meu, não foi a primeira A tua branda alma, Verter veneno em calma E vivendo em perfeito cativeiro, Aberto abismo em ti Que eu de longe aprendi, Que nisto não serás do Amor primeiro.
Suporta o frio d Inverno rigoroso, Sofrendo por inteiro os seus ofícios. Verter lágrimas é mais saboroso, Quando pelas tristezas, não por vícios No refúgio do lar, Um brando lume a crepitar Que a ti, mais do que pra mim guardo, esprança Terás um renascer Novo, um outro saber Não passando mais do que uma lembrança.
Já para ti, de noite é o teu dormir Profundamente, mergulhada em sonho Ao contemplar-te sinto a alma sorrir. Que eloquentes versos na mente eu ponho!. A gratidão que sinto, não por ti Somente, mas por quem te enviou linda Áurea reluzente. Vê o que extraí Da aurora, cores que em manhãs nos brinda. Ver-te assim me lembra o aconchego, Refúgio a quem tomei-lhe tanto apego, Razão maior de não lograr-te, amor Porque quem diamante tem e quer, Tesouro inda maior, deverá ter Profundo abismo de dores causador
Por caminhos mais lúgubres diria Fragoso mais é este peito infecto, E sobre o que fazia, Voos quentes de insecto Ilustre amendoeira que floresce, No viço em erma mente nela cresce, Alheio ao pensamento circunspecto.
Olhar de deus nas nuvens quando a Lua Lá no lar elevado mais que o nosso Majestosa insinua Esticando seu pescoço, Contempla e forma olhar divino e estranho No Céu violeta traça um belo desenho: Eis, ó Deus, que olhar atento o vosso".
De rocha não sou feito nem de areia, Que fina escorregando entre os teus dedos Volves cantares mansos de sereia, E um ramo horrendo fazes com meus medos. Deixa entrar, piano, a minha estima, Porque a Lua reprova lá de cima.
Nos céus macios, divinos, flutuava Porque a graça detinha do teu gosto Co as róseas cores d Aurora, eu comparava Crepúsculos dum sol maduro e posto. Extraio as negras cores de céus d Invernos De leis criadas por tão maus governos.
Obter perdão de ti será empresa, Tão nobre o gesto, duro de quebrar, Enquanto isso não dura, a framboesa, Sabor da tua boca, eu vou esperar, Quando o meu sorriso o teu convide, Qual luz do sol densas trevas divide.
Não te entendo! (Nem sequer devia) A mente humana, amálgama terrestre! Maior desprezo que hoje me oferceste Germina o verme que no imundo cria.
Paira um nevoeiro agreste. O dia, Mais não oculta sobre o que entendeste, Tentei firme manter-me qual cipreste, Guardião dos mortos... vivos, não havia.
Serei as nuvens, Sol, teus olhos claros Rochoso, sorvendo teus desamparos, Enquanto à costa dás a dor maior;
D amuos, nada se ergue. E amuando, Vai nosso belo mundo desabando E nada disto eu chamo, amor, de Amor...