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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

Consolação

Dezembro 26, 2006

Nesse rosto infantil, alegre e lindo
Eu vejo impérios que nunca os fundei
Nesta réstia de tempo, redimindo
Do meu passado, eu vou, mas não voltei.
Deito-me a pensar no que não sou
Acordo sem pensar no que farei,
Lamento o bom de mim que se evolou,
Tornei-me assim no que nunca sonhei.
Nem jóias, sedas; nem outras riquezas
Me trazem os teus tão belos sorrisos
Nem quero ter verdades ou certezas
Sobre as vãs glórias, maus ou bons juízos.
Só o dia é minha noite, e a noite o dia
E o teu sorriso à noite é poesia...

Igual

Dezembro 26, 2006

Nesta rósea aurora que na manhã,
Tão gélida de Inverno, encontrarei
A gratidão por entre a vida vã,
O canto que em verso nunca cantei.
Espantoso, indescritível um momento,
Estático, caindo da minha boca
O seco espasmo quando o encantamento
Sai de uma caverna, canto ou toca.
Belíssima... dulcíssima... uma benção
Enubladas manhãs, nem sei porquê,
Do leito me ergo em esforço e a canção,
É sempre igual, soando a «não sei quê».
Perdoa este cantar tão magro e rude,
Por cedo ter perdido a juventude.

Fragilidades

Dezembro 21, 2006

(Dedicado a Hélder Carrudo...)

Frágeis como ventos que passando,
Roçam nas montanhas e desvanecem...
Frágeis como as flores que mirrando,
Nunca colhidas, suas cores esmorecem...
Senhor de ti deixas-te, e o ódio impera
Majestoso erguendo branca plumagem.
Vão querer viver sempre a primavera,
Quando enegrece a idílica paisagem.
Não te apoquentes porque tudo é vento,
Que passa e nunca dura além da alma
Porém, é escuro e claro o sentimento.
Não desejes ninguém: somente, a calma.
Ó barca, rumo incerto, sem ter leme,
Quem nada deve, nada em vida treme.

Vozes

Dezembro 18, 2006

Expressa realmente um sentimento,
Sem truncar o que sentes no que dizes,
Respira a liberdade, o pensamento
Mesmo que a tela em branca cor matizes.
Porque assustado te encolhes num canto,
Como se algum deus visses na floresta?
Amplia a vista, contempla num espanto
Recolhendo o bom que ainda te resta.
Bem sei, bem sei, recusas ouvir vozes
Modestas, grandiosas, verdadeiras
Não terás assunto que nele gloses,
Nem beberás das divinas videiras,
Porque deuses preparam o doce vinho,
Quem não o derrame em lençol de linho.

Apatia

Dezembro 18, 2006

Ando apático, indif’rente,
À vida que passando
Passa e não deixa saudade.
O tempo voa e vai voando...

Tenho pensando em tanta,
Coisa que não tem valor,
Lembro-me do meu passado,
Como eu era um sonhador.

E agora nem um tenho,
Rasguei-os todos, deitei fora
Fico só a ver o sol,
De fino ouro a ir-se embora...

Memórias...

Dezembro 18, 2006

Eu fui roubar o brilho do teu rosto,
Mimoso, infantil, de olhos reluzentes
Funestas frases escritas, o oposto
Ao passado para além dos meus dentes
Pungente pranto, um choro de criança
Tingindo as faces dessa cor de fogo,
Que furta a imaculada cor da esperança,
Deste mar longe, onde em versos me afogo.
Talvez co’ o tempo obtenha o teu perdão.
Talvez nunca perdoes, nem devias
Mas ver-te, só de ver-te, o coração
Provoca a flâmula dos magros dias.
Quem enviou mão suja e invisível,
Extorquindo a clara luz do aprazível?

Dia Memorável

Dezembro 07, 2006

(Dedicado a Susana Maia...)

Cocei minha cabeça, ergui bandeira,
Pedindo-te uma falsa opinião,
Puseste-me entre a eira e a beira,
Na incerteza, uma melhor resolução.
No fundo, mesmo bem lá no teu fundo,
Sentiste uma verdade que disseste,
E eu, com louco olhar, quase moribundo
Vi que da beleza te convenceste.
Digo-te: ri mais do que pensava,
Rimos num doce uníssono, entre a gente
Que, atordoada, para os dois olhava,
Tornando o nosso dia mais diferente.
Se riste co' uma tremenda vontade,
Gravado ficará na eternidade.

Sê livre!

Dezembro 06, 2006

(Dedicado a P...)

Será que não consegues ver direito
Quem te tira a liberdade,
Sabendo que ninguém não é perfeito,
Esta é uma verdade,
Que ódio amor existem de mãos dadas,
E tu podes escolher,
Estares longe das que, mal amadas,
Odeiam com prazer.

Coragem, meu amor, coragem tens,
Para não te derrubarem,
Esmoreço quando triste a mim tu vens,
Por outras odiarem,
O que tu representas, como andas,
Um lírio entre as flores,
Espinhosas crescem elas noutras bandas,
E invejam as tuas cores.

Respira uma coragem hercúlea, eterna,
Que outros oprimidos,
Respiraram contra quem mal governa,
Outros seres suprimidos,
Porque passeias livre entre essa gente,
Tão vil e insegura,
Mesquinha, odiosa, e maldizente,
E tu sempre tão pura.

Não te encolhas mais nesse teu canto,
Tímida e assustada,
Eu secarei as lágrimas do pranto,
Contigo amargurada,
Mas sei que não serás livre, livrando,
As más línguas de ti
Essa tristeza assim vai continuando,
Que contigo eu dividi.

A Guerra das Luzes

Dezembro 06, 2006

Entra dentro deste branco espaço,
Sentindo a vastidão desta frescura,
Qual sombra de árvore, ou um grande abraço
Espantando a tristeza, a mão impura.
Ternura dá, cedendo amor sincero
Depositando ouvido em chão da terra
Inflama o peito, coração mais fero
Sossego dando a um coração em guerra.
O que esvazia a alma, lugar dando,
Retoca, e lentamente retocando,
Os cantos mais obscuros de uma alma;
No entanto, como é belo só falar,
Pomposo verso em branco propagar:
Confesso estar em guerra e não ter calma.

Os teus olhos...

Dezembro 05, 2006

Tudo me irrita, tudo me aborrece,
Tudo me entristece, e a poesia,
Onde eu tudo faria se eu pudesse
Se... tanta e tanta coisa eu faria.
Domina a cinza cor durante o dia,
Matizo em dores o que nunca se esquece
Definha a luz no que muito enriquece,
Esmorece o que sonhava, o que dizia.
Não ser mais escuro onde me encontro
Carpindo outras maneiras de estancar,
A ferida de raro ser o assunto,
Que eu possa em verso ou rima sublimar.
Mas teus olhos, pérolas reluzentes,
Tornam tristezas, dores, indif’rentes.

A Ilha dos Assombros

Dezembro 05, 2006

(Para Therese Marja...)

Sorriso delicado, olhos de mar
Intenso azul, brilhando em claridade
Dourando Apolo no céu e, ao passar
Tropeça num rochedo em ansiedade.
Cabelos loiros, cor d’ ouro fulgente
Em desalinho soltos sobre os ombros
Selvática rainha e... de repente,
Deixada assim... na Ilha dos Assombros.
Quem sorriso concede e noutro instala,
Com mesmo oposto gesto é posta em fuga
E agora, o seu sorriso já não fala:
Como quem dá, mesmo a alma nos suga.
Arrancada do leito do seu Amor,
Louvando quem nunca lhe deu valor.

Iluminações

Dezembro 05, 2006

Pesa a angústia, pesa este torpor,
Pesa o escuro céu em demasia,
Pesa escurecer bondoso amor,
Quando enegrece o céu na luz do dia.
Dança a chuva, os ventos incostantes,
Dança a multidão se agasalhando,
Lamentos lançam do final hiantes,
sobre a vida, o tempo, assim vão estando.
Dói-me esta cabeça de incessante,
Pensar constante, tempestade aberta,
Esboço em papel desejos de amante,
Silvando ventos na mente deserta.
Que quero, nunca digo nem revelo
Talvez não o revelando, possa tê-lo.




Línguas de fogo

Dezembro 04, 2006

Saber a fonte ingente da fervura,
Escorrendo um fio cremoso, a doce linfa,
Na seca fonte, amor por uma ninfa,
Olhos fixando em outros de ternura.
E ao peito, a morte ideia pesa e fura,
Lembrar o passo exacto, encontro à Morte,
Esqueço de me encontrar com a sorte,
Lembrando-me que o Bem ou Mal não dura.
Que sobra para mim se não te vejo,
Surgir-me em nevoeiro matinal,
Pensar talvez seja a fonte do Mal,
Porque não sei pensar, somente em beijo.
E os lábios teus fogosos reacendem,
A chama que a nós dois unem e prendem...

Abstracto

Dezembro 04, 2006

Não vale a pena ter divina esperança,
Ao lado, enquanto o círculo aperta,
E a mente ufana mente quando aberta,
Ao branco abismo da doce lembrança?
Não vale, manchando o branco imaculado,
A noite, acesas luzes do cansaço?
Dá-me, Alívio, teu gentil abraço
De amigo como não fosse eu amado!
Oiço frases vindas de outra margem,
Trazidas pelo soturno barqueiro,
Debaixo de mim próprio verdadeiro
Não vejo a bela cor, a bela imagem.
Trago a rouquidão do meu suspiro,
E ao mundo, as costas, insolente, viro...

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