Nesse rosto infantil, alegre e lindo Eu vejo impérios que nunca os fundei Nesta réstia de tempo, redimindo Do meu passado, eu vou, mas não voltei. Deito-me a pensar no que não sou Acordo sem pensar no que farei, Lamento o bom de mim que se evolou, Tornei-me assim no que nunca sonhei. Nem jóias, sedas; nem outras riquezas Me trazem os teus tão belos sorrisos Nem quero ter verdades ou certezas Sobre as vãs glórias, maus ou bons juízos. Só o dia é minha noite, e a noite o dia E o teu sorriso à noite é poesia...
Nesta rósea aurora que na manhã, Tão gélida de Inverno, encontrarei A gratidão por entre a vida vã, O canto que em verso nunca cantei. Espantoso, indescritível um momento, Estático, caindo da minha boca O seco espasmo quando o encantamento Sai de uma caverna, canto ou toca. Belíssima... dulcíssima... uma benção Enubladas manhãs, nem sei porquê, Do leito me ergo em esforço e a canção, É sempre igual, soando a «não sei quê». Perdoa este cantar tão magro e rude, Por cedo ter perdido a juventude.
Frágeis como ventos que passando, Roçam nas montanhas e desvanecem... Frágeis como as flores que mirrando, Nunca colhidas, suas cores esmorecem... Senhor de ti deixas-te, e o ódio impera Majestoso erguendo branca plumagem. Vão querer viver sempre a primavera, Quando enegrece a idílica paisagem. Não te apoquentes porque tudo é vento, Que passa e nunca dura além da alma Porém, é escuro e claro o sentimento. Não desejes ninguém: somente, a calma. Ó barca, rumo incerto, sem ter leme, Quem nada deve, nada em vida treme.
Expressa realmente um sentimento, Sem truncar o que sentes no que dizes, Respira a liberdade, o pensamento Mesmo que a tela em branca cor matizes. Porque assustado te encolhes num canto, Como se algum deus visses na floresta? Amplia a vista, contempla num espanto Recolhendo o bom que ainda te resta. Bem sei, bem sei, recusas ouvir vozes Modestas, grandiosas, verdadeiras Não terás assunto que nele gloses, Nem beberás das divinas videiras, Porque deuses preparam o doce vinho, Quem não o derrame em lençol de linho.
Eu fui roubar o brilho do teu rosto, Mimoso, infantil, de olhos reluzentes Funestas frases escritas, o oposto Ao passado para além dos meus dentes Pungente pranto, um choro de criança Tingindo as faces dessa cor de fogo, Que furta a imaculada cor da esperança, Deste mar longe, onde em versos me afogo. Talvez co o tempo obtenha o teu perdão. Talvez nunca perdoes, nem devias Mas ver-te, só de ver-te, o coração Provoca a flâmula dos magros dias. Quem enviou mão suja e invisível, Extorquindo a clara luz do aprazível?
Cocei minha cabeça, ergui bandeira, Pedindo-te uma falsa opinião, Puseste-me entre a eira e a beira, Na incerteza, uma melhor resolução. No fundo, mesmo bem lá no teu fundo, Sentiste uma verdade que disseste, E eu, com louco olhar, quase moribundo Vi que da beleza te convenceste. Digo-te: ri mais do que pensava, Rimos num doce uníssono, entre a gente Que, atordoada, para os dois olhava, Tornando o nosso dia mais diferente. Se riste co' uma tremenda vontade, Gravado ficará na eternidade.
Será que não consegues ver direito Quem te tira a liberdade, Sabendo que ninguém não é perfeito, Esta é uma verdade, Que ódio amor existem de mãos dadas, E tu podes escolher, Estares longe das que, mal amadas, Odeiam com prazer.
Coragem, meu amor, coragem tens, Para não te derrubarem, Esmoreço quando triste a mim tu vens, Por outras odiarem, O que tu representas, como andas, Um lírio entre as flores, Espinhosas crescem elas noutras bandas, E invejam as tuas cores.
Respira uma coragem hercúlea, eterna, Que outros oprimidos, Respiraram contra quem mal governa, Outros seres suprimidos, Porque passeias livre entre essa gente, Tão vil e insegura, Mesquinha, odiosa, e maldizente, E tu sempre tão pura.
Não te encolhas mais nesse teu canto, Tímida e assustada, Eu secarei as lágrimas do pranto, Contigo amargurada, Mas sei que não serás livre, livrando, As más línguas de ti Essa tristeza assim vai continuando, Que contigo eu dividi.
Entra dentro deste branco espaço, Sentindo a vastidão desta frescura, Qual sombra de árvore, ou um grande abraço Espantando a tristeza, a mão impura. Ternura dá, cedendo amor sincero Depositando ouvido em chão da terra Inflama o peito, coração mais fero Sossego dando a um coração em guerra. O que esvazia a alma, lugar dando, Retoca, e lentamente retocando, Os cantos mais obscuros de uma alma; No entanto, como é belo só falar, Pomposo verso em branco propagar: Confesso estar em guerra e não ter calma.
Tudo me irrita, tudo me aborrece, Tudo me entristece, e a poesia, Onde eu tudo faria se eu pudesse Se... tanta e tanta coisa eu faria. Domina a cinza cor durante o dia, Matizo em dores o que nunca se esquece Definha a luz no que muito enriquece, Esmorece o que sonhava, o que dizia. Não ser mais escuro onde me encontro Carpindo outras maneiras de estancar, A ferida de raro ser o assunto, Que eu possa em verso ou rima sublimar. Mas teus olhos, pérolas reluzentes, Tornam tristezas, dores, indifrentes.
Sorriso delicado, olhos de mar Intenso azul, brilhando em claridade Dourando Apolo no céu e, ao passar Tropeça num rochedo em ansiedade. Cabelos loiros, cor d ouro fulgente Em desalinho soltos sobre os ombros Selvática rainha e... de repente, Deixada assim... na Ilha dos Assombros. Quem sorriso concede e noutro instala, Com mesmo oposto gesto é posta em fuga E agora, o seu sorriso já não fala: Como quem dá, mesmo a alma nos suga. Arrancada do leito do seu Amor, Louvando quem nunca lhe deu valor.
Pesa a angústia, pesa este torpor, Pesa o escuro céu em demasia, Pesa escurecer bondoso amor, Quando enegrece o céu na luz do dia. Dança a chuva, os ventos incostantes, Dança a multidão se agasalhando, Lamentos lançam do final hiantes, sobre a vida, o tempo, assim vão estando. Dói-me esta cabeça de incessante, Pensar constante, tempestade aberta, Esboço em papel desejos de amante, Silvando ventos na mente deserta. Que quero, nunca digo nem revelo Talvez não o revelando, possa tê-lo.
Saber a fonte ingente da fervura, Escorrendo um fio cremoso, a doce linfa, Na seca fonte, amor por uma ninfa, Olhos fixando em outros de ternura. E ao peito, a morte ideia pesa e fura, Lembrar o passo exacto, encontro à Morte, Esqueço de me encontrar com a sorte, Lembrando-me que o Bem ou Mal não dura. Que sobra para mim se não te vejo, Surgir-me em nevoeiro matinal, Pensar talvez seja a fonte do Mal, Porque não sei pensar, somente em beijo. E os lábios teus fogosos reacendem, A chama que a nós dois unem e prendem...
Não vale a pena ter divina esperança, Ao lado, enquanto o círculo aperta, E a mente ufana mente quando aberta, Ao branco abismo da doce lembrança? Não vale, manchando o branco imaculado, A noite, acesas luzes do cansaço? Dá-me, Alívio, teu gentil abraço De amigo como não fosse eu amado! Oiço frases vindas de outra margem, Trazidas pelo soturno barqueiro, Debaixo de mim próprio verdadeiro Não vejo a bela cor, a bela imagem. Trago a rouquidão do meu suspiro, E ao mundo, as costas, insolente, viro...