Infortúnios
Fevereiro 27, 2006
I
Chamo por ti, Ó Deus de quem se aflige,
Com a beleza que estonteia ao ver; martírio,
Porque o mercúrio no topo atinge,
De olhar para tão belo e casto lírio.
Quem me dera ser escultor atento,
Que escuta todos os traços e movimentos,
Dos meus ávidos olhos, não está isento,
Este corpo perfeito em sentimentos.
Cada curva sua incita um poema,
De quem Calíope foi sempre gentil,
E qual, para meu mal, será o tema?
Ela por quem desejos eu conto mil.
Ó selvática mulher atraente,
Que se abstrai de si, bela e independente.
II
Assenta-lhe sobre os ombros majestosos,
Cabelo, numa elegância, penteado,
E os olhos meigos, volvem em vigorosos
Dardos ternos por Cúpido prendado.
Os braços com os quais se movem brandos,
Seguram, como Cristo em La Pietá,
Meus desejos longe de serem nefandos,
Retenho em não querer que até ela vá.
É uma verde e azul bela paisagem
Como paisagem que a Natura oferece,
Ah, e se enviar-lhe uma bela mensagem?
Era só que ao louco tudo apetece,
Porque sobre a janela corre uma aragem,
Quente como no verão nada arrefece.
III
Permite este meu curvar sobre o teu,
Cândido olhar ao qual eu me envergonho,
Se cobrisses teu sorriso com negro véu,
Rasgavas em mil pedaços este meu sonho,
De ter-te envolta em meus lânguidos braços,
E com as mãos, prender o teu compasso
Porque em versos, quero descrever-te os traços,
E socorrer-me é só dares-me um abraço.
Mas não te apoquentes, ó Afrodite
Do teu luxuriante bronze da pele,
Pois guardarei segredo, e acredite
Quem se pica, rouba à abelha, o mel.
Mas temo este meu íntimo desejo,
Que se converta um dia, um abraço em beijo.
IV
Sinto deter nas mãos o fogo que faz,
Com que o teu corpo queime e fira tanto,
Que escolho guardar estas palavras más,
Antes, que em vida, dos dois, se esvaia em pranto.
Pois canto, para ninguém, canto para mim,
Sem aspereza, a voz do meu cantar,
Sendo último na corrida sem fim,
Poder algum dia eu vir-te a amar,
E assim terei sempre o olhar de ti,
Sem mácula imposta deste atrevimento,
Mas minha Beatriz de Alighieri,
Ainda fumega o meu abrasamento.
E o teu não estares ao meu lado num dia,
É músico que canta sem melodia.
V
Deténs no corpo muito maior deslize,
Que este afrouxado deslize em pena gasta,
Talvez viçoso corpo, teu olhar vise,
Prender o olhar que, dele, nunca se exausta,
Deténs maior brancura que em meus versos,
Que não revelam ao mundo um Mundo Novo,
Mas mergulhei meus olhos e, submersos
No que és ficaram. E não os reprovo.
E além do mais deténs forte feitiço,
Lançado, sem que seja o teu ensejo,
E assim, pondero, e não penso mais nisso,
De nunca vir a ter de ti um beijo.
Bate então ó sonho alado
Pela Fortuna, reprovado.
Chamo por ti, Ó Deus de quem se aflige,
Com a beleza que estonteia ao ver; martírio,
Porque o mercúrio no topo atinge,
De olhar para tão belo e casto lírio.
Quem me dera ser escultor atento,
Que escuta todos os traços e movimentos,
Dos meus ávidos olhos, não está isento,
Este corpo perfeito em sentimentos.
Cada curva sua incita um poema,
De quem Calíope foi sempre gentil,
E qual, para meu mal, será o tema?
Ela por quem desejos eu conto mil.
Ó selvática mulher atraente,
Que se abstrai de si, bela e independente.
II
Assenta-lhe sobre os ombros majestosos,
Cabelo, numa elegância, penteado,
E os olhos meigos, volvem em vigorosos
Dardos ternos por Cúpido prendado.
Os braços com os quais se movem brandos,
Seguram, como Cristo em La Pietá,
Meus desejos longe de serem nefandos,
Retenho em não querer que até ela vá.
É uma verde e azul bela paisagem
Como paisagem que a Natura oferece,
Ah, e se enviar-lhe uma bela mensagem?
Era só que ao louco tudo apetece,
Porque sobre a janela corre uma aragem,
Quente como no verão nada arrefece.
III
Permite este meu curvar sobre o teu,
Cândido olhar ao qual eu me envergonho,
Se cobrisses teu sorriso com negro véu,
Rasgavas em mil pedaços este meu sonho,
De ter-te envolta em meus lânguidos braços,
E com as mãos, prender o teu compasso
Porque em versos, quero descrever-te os traços,
E socorrer-me é só dares-me um abraço.
Mas não te apoquentes, ó Afrodite
Do teu luxuriante bronze da pele,
Pois guardarei segredo, e acredite
Quem se pica, rouba à abelha, o mel.
Mas temo este meu íntimo desejo,
Que se converta um dia, um abraço em beijo.
IV
Sinto deter nas mãos o fogo que faz,
Com que o teu corpo queime e fira tanto,
Que escolho guardar estas palavras más,
Antes, que em vida, dos dois, se esvaia em pranto.
Pois canto, para ninguém, canto para mim,
Sem aspereza, a voz do meu cantar,
Sendo último na corrida sem fim,
Poder algum dia eu vir-te a amar,
E assim terei sempre o olhar de ti,
Sem mácula imposta deste atrevimento,
Mas minha Beatriz de Alighieri,
Ainda fumega o meu abrasamento.
E o teu não estares ao meu lado num dia,
É músico que canta sem melodia.
V
Deténs no corpo muito maior deslize,
Que este afrouxado deslize em pena gasta,
Talvez viçoso corpo, teu olhar vise,
Prender o olhar que, dele, nunca se exausta,
Deténs maior brancura que em meus versos,
Que não revelam ao mundo um Mundo Novo,
Mas mergulhei meus olhos e, submersos
No que és ficaram. E não os reprovo.
E além do mais deténs forte feitiço,
Lançado, sem que seja o teu ensejo,
E assim, pondero, e não penso mais nisso,
De nunca vir a ter de ti um beijo.
Bate então ó sonho alado
Pela Fortuna, reprovado.