Haverá o que nos faça rir, E o que nos faça tanto chorar. Pensando nisto tudo... chega. Vou ver o céu a refulgir, Com bolas de cores a rebentar, Novo Ano que o tempo delega.
Vou pensar só no prazer, Que ainda, vivo, aqui estou, Sem pensamento algum. Vou só rir, só beber, Vou ser bêbado que andou, Sem ter sentido nenhum.
Esta minha inquietação que não transvia, Dos recônditos lugares do meu ser, Luta, arcanjo Gabriel à luz do dia Nesta mente assaz, ébria de vencer Como voar tanto eu gostaría, Como viver vidas antes de morrer.
Que passa então dentro desta cabeça, Tão forte latejar de ignomínias, Talvez esta dor forte desapareça, Se esta dor tivesses, que farías? Talvez dura peleja te aborreça, E ao tédio primeiro pecarías.
II
Espero na varanda, olhando o horizonte, Tenho declinar do dia, o Sol defronte O mesmo, o exacto, o mais que previsível, Tenho olhos abertos não tendo nada vísivel. Tenho o mar à frente, e os despojos a boiar, São meus sonhos distantes, são que me fazem lembrar, Que um dia fui criança, que um dia fui feliz, Que hoje adverso e parco de glória, estou na matriz.
III
Vou pecar novamente, Porque nunca fui pecador, Ou então talvez fui sempre, Do pecado, o embaixador. Já bebi do Amor, do Ódio, Dou de beber à dor, As águas longas do Tédio, Se no querer ser o esplendor.
Leva-me, ardente Musa, Para esse Harém distante, Veste-me da areia gente, Envolve-me no turbante. Quero beber outras águas, Ver o verde que nunca vi, Ver dissipar minhas mágoas, Sorri porque já sorri.
Meus versos tanto declinam, São reflexo do que sou, Que nada a outros ensinam, Mas houve quem um dia gostou, De ser de mim leitor, Ficando no anonimato, de peito redentor, De não ser lido estou farto.
Mas ânsia que me invade, Nervos que em mim fervem, Não tenho algo que agrade, Nem poetas que me invejem, Sem que seja inveja intento, Seria horrendo o principal, O intuito é o pensamento, Sair, que nos deixa mal.
Ah se eu sentisse o batimento de coração, Mais forte que a tempestade, ter coração de Leão! Ah se fosse águia, vate que forte nos inspira, Que no ébano existe mas que luz não nos retira. Ah se mar eu fosse e a calma no azul plantasse, Talvez de ser mar sempre o homem invejasse. Ah ser Terra, ar, fogo, lume chama, tudo, Talvez tivesse o mundo e infeliz fosse, contudo. Desejar ter um fixo querer somente, inexaurível No Homem é fingimento, é quase impossível. Olhar para o lado e ver quem tudo tem mais do que nós, Sem que cante alto alegre e eleve mais alto a voz. E ver o mar, sentir o vento é ter Amor, Matar a sede de quem implora tanto: a dor. Coruscantes estrelas sem que primem por moral, Na eternidade (eternidade!) ter ofício maquinal. E neste arrastar de horas, onde os minutos se alongam, Quero ver se mágoas lançadas ao mar se afogam, Ou tristezas se dissipam como neblina na aurora, Erguendo-se um Sol novo que nunca, nunca se demora.
Invoco o nome que o sangue nos gela, Quem por todos chamam, quando ausente, A fria, pura, horrivelmente bela, Quando revelada torna-se imponente.
O tempo urge sem que a pressa faça, Gerar pânico quando nisto muito se pensa, Mas nunca é tarde saber se embaraça, Se é verdadeira nossa vontade ou crença.
Deparo-me nessa que tão vil escondida, Por quem olhares, e o medo oculta. Ó tu ao corpo bem vinda e bendita A alma, que se vangloria e se culpa.
Foi o Homem largado neste vasto, Palco azul que a terra inunda, engole, Pausa na eternidade, da Morte, repasto, Que alma leve ou vivo me viole!
E assim pensando o quanto o tempo corre, Que penso o quanto valho tanto ou não, Que valor tem alma, se ela morre, Quando parar inquieto o coração.
Que deidades brincam com nosso destino, Brumoso, que nos valha morte tranquila, Quando se ouve toque fúnebre do sino, Conversa com alma, vou agora ouvi-la.
Já basta o quanto tanto fico exausto, De ver gente que passa na felicidade, Que me constrange, longe de ser fausto, Augusto, César que antiguidade abrange.
Não passamos de raízes plantadas, Por deuses inventados por que existe, Medonho medo de ter ancoradas, E assim com a esperança se resiste,
Que seja só começo e não o fim, Das coisas, sendo da vida comovente, Somos de Deus seu rebelde querubim, Indomável, arrogante, pobre descrente.
Neste abandono à jornada perene, Noutro princípio que ao Homem transcende, A busca que a mim a vida me ordene Outra centelha de vida se acende.
Sopro como um passageiro vento, Que tão depressa cessa como levanta, Somos leve poeira que em pensamento, A nós sofrimento nos agiganta.
Então sejamos livres, pois estaremos, Uma vez cá somente então que valha, E aos filhos nossos, herança deixemos, Obra contínua, se a nós nos calha.
Mesmo tendo visão ampliada, Sinto que posso ter o Universo, No meu Universo, alma encalhada, Em porto vivo, incerto e adverso.
Morri já várias vezes poucas ainda, Para que vivo me sinta claramente Ah, torna-se a luz vista ainda mais linda, Que no passado - bendita seja a mente!
Flores, montes, pequenos rebentos, Ao florescer magnífico alegre assisto, Águas, fogo, ar, do Homens inventos Feliz contemplado por viver isto.
E nada de divino se vindima, Se agrilhoa, como mente ampla liberta, Leio a Natureza, planto a rima, E lanço-me contente à descoberta.
"Ser ou não ser, Eis a questão". Tu escohes ser, Outros não. Porque a alma tua, Ainda a conservas, Outros venderam, Logo, os enervas. Porque embaraças, Por ser quem és, Tens doutros desdém, Pisam-te os pés. E porque além, De seres corajosa, Talvez mais sejas, Que alguém, formosa.
Mas não te importes, Tens, pois, um brilho, Do teu marido, E do teu filho, Que te amparam, Na hora de dor Vê-se no teu rosto, Retrato de Amor. São o teu mundo, O que te faz mover, Sem que desejes, Retroceder. Mas esquece tudo, Doutros desdéns, Pois é o teu dia. Parabéns!
Vejo, não dois olhos, mas duas estrelas, Entre outras, porém, delas mais coruscam, Teus lábios tremem, quais as sentinelas Que inimiga, verdade cruel, não buscam Num arco se torna, minha alma não sente De ouvir razão humana que desconcerta Como desejaria que à minha frente Alvo não fosses, antes uma alma aberta. Qual fonte de água se propaga impura, E cai na alma nossa em catadupas, Confessa: diz quais serem minhas culpas, Faz da impura mentira, verdade pura E da aljava retiro seta ou pergunta, E tua áurea esmorece como defunta.
II
As minhas flores não crescem quando tu choras, Crescem as minhas flores quando sorris, E a luz pela qual amas e adoras, É a Lua triste com seus mil ardis. Crescem quando um sol novo incerto De raios finos, dedos delicados Se entregam ao teu sorriso aberto, Porém, se choras, são juncos truncados. E tens por companhia essas sombras, Quando docemente triste as invocas, As horas passam e disto, não te lembras Em ti mais amargura acre provocas. Curvo-me em respeito por não ser, Sombra, que não faço dor desaparecer
Não tentes seguir nunca os meus passos Pungentes, confusos que eu cá deixei, Na fina areia apaga o vento os traços, Mas não varre o que tanto amei. Dos lábios teus, que não saiam mentiras, Sobre os ditos ou deixei cá feito, Fui outro homem ser mais que imperfeito, Não vale sobre mim o que profiras. E toda a minha herança é apenas uma: Atirei tudo ao abismo que em mim mora, Retive um alto gosto ao que acostuma; Olha meu rosto, vê que ri e chora, Meu Tudo é parara ti coisa nenhuma Abro e fecho minha Caixa de Pandora
Devolvo a impertinência Ao impertinente, Invoco a insolência. A um insolente, Possuo-me de inconsciência, Ao inconsciente, Se caio na indeferença É me indiferente.
Entrego à providência Ao de nada crente, Moral não a detenho Ao mais indecente Mas abro os braços a quem, Quem sofre e sente De amor... e é assim Sucessivamente...
Escreve poemas sem nexo nenhum, Oferece a quem leia versos, um a um; Ah, leitores, se me pudessem ler, O que ouso, anseio, sofro a escrever... Cai em desuso o grotesco gratuito, E polir meus versos é tudo o intuito, De quem viu o sonho em mil fragmentos, Agora em verso, canto meus pensamentos; Porque não basta o que a fome desponta, Bacantes amores somente, não conta, Desbasta a ceara de nocturno cultivo, Pondera o semblante após dia festivo. Nada me ferve, transborda, preenche Tenho um abismo que nunca se enche. Qual negro buraco que terras degola, Assim eu devoro. Quem a alma controla?
Quando plácido no sono adormeço, Olvidando se limpa a consciência, Veio o Divino na sua eminência Cedeu-me sonho, que vivo, não esqueço. Não era a mente que nele levitava, Mas levitava nele só com a mente, Tão leve aos céus pronto me elevava Meu corpo voava, sim, eu realmente.
Sem plumagem deter assim voando, Nos meandros deste abismo profundo, Andei tão livre como um vagabundo, No passo um vagar leve vagueando. Ninguém à espera que poise no ramo, Sem bando ou destino algum traçado, Ah, subo, ao alto, subo corpo elevado, Voar.. como por cá voar eu amo.
Mas não existe o que seja eterno, Como das nuvens forte chuva caída, Não encontrei no sonho uma saída, Como escadas que vão dar ao Inferno. Onde o paraíso se recrudesce, Decorada duma arte amena assaz Mas dele perto estive e me parece, Tão real como o Amor nos faz.
Tão distantes meus olhos devem estar, Nesta altura que voo nos meus sonhos, Deles um Amor perto do seu mar, Não lânguidos olhares, nem tristonhos. Porque mentira vil ou fria verdade, Inúteis são para onde voa a mente, Minha; daí sonhar com a liberdade, Que Ela o Amor a nós consente. Não é vertiginoso nem duradouro, Louco voo pr'a bem longe voando, Espiritual saída é um tesouro, Não quem sujo no ser vai mal deixando.
Sem que poiso aviste irei para onde, Esta voz alta que, surdo de ouvido, Por vezes o Homem, rei, duque ou conde, Ouvi-la, para ele, não faz sentido. Nada exista que a mente não possa, Pobre de quem do ser não é ditoso, Talvez o próprio seja que destroça, E amansa um coração dele mentiroso. Se, tirano, nos reina um medo dentro, Em nós que em vários dentro, se propague, Entrego-me à reflexão indo ao centro, Ao medo para que não meu ser apague.
E é berço do que nos autentica, Identidade aos olhos próprios nossos, Acende-se a centelha que tudo indica, Que fazer com uma alma em destroços. Nascem poetas mil dentro de nós, Que respiram de novo um livre ar Em crescendo se ouve uma voz, Do que somos, ousamos outro amar; Sem grilhões que escassa certeza, Nosso andar abrande ou prenda o passo, Ah, se confiasse nesta firmeza, Dêem-me a liberdade: verão o que faço!
Sinto o perfume da relva cortada, Mesmo que nela deitado não esteja, Abandono o corpo, tábua encostada, A um canto, pois corpo sonho não beija; E as flores, que o verde claro salpicam, De cores que tingem deusas os véus, Regatos, que murmúrios edificam, Baladas a anjos que ouvem nos Céus. Não! Não quero ainda olhar, O que me espera, seca e adoece Não! Ainda não quero voltar, Para o lugar onde o meu ser esmorece.
Prende a mão que inveja nosso ardente, Voo, quando para trás se olha, O que se deixa fora displicente, Duma razão que a rosa desfolha. Avançarei cego de olhos abertos, Madrugarei no tempo que me resta Sem que pense em destinos certos, Porque Ela servil, isto nos presta. Certos são num papel nossos traços, Da pena sequiosa de imprimir, Um querer sem querer de mil abraços, Dar ao mundo, puro sem fingir.
Que pretendo com frases vazias, Encher quebrado o copo que quebrei, Não são poucas as noites nem os dias, Que pense no que ainda não alcancei. Que me vale beber dum seco rio, Se o astro me persegue na rotina, Própria dele; vivo farto no estio, Sem que encontre cá minha morfina. Porque tudo é de louco devaneios, Quem sente que o mundo é vago e baço, Porque na mente solta seus arreios, Logo causando ao vulgo embaraço.
No lajedo alado, andar tanto me cansa, Nesta realidade nada que valha é feito: Ah, mísero que sou, que não alcança, Paz, que viu o sonho ser desfeito.
Vejo a passar O que passar, já vi, O tempo em mim roçar, E o mar que já ouvi, Leve, não me leva, O que 'inda não senti, Jamais a mente eleva, Ao Céu que eu subi.
Escada que se estende, Degrau primeiro, segundo, O que não se etende, Por ter em mim fecundo, O forte batimento, Coração moribundo, Sem meu consentimento, Não irei já ao fundo.
Existe de madeira, não de ouro, A arca onde eu guardo meus segredos, Onde guardo e escondo todos os meus medos, O que exala de mim, é o tesouro; E penso se mãos santas que conservam, Serão de mim rebeldes guardiões, Pois que não lancem chamas que ostentam, Almas bravas de antigos centuriões.
Serei só majestade noutro lugar, Por cá não escalei mais de que planície Não afastei que entranha, a imundice, Só demónios alguns fiz debandar. Falhei. Eis o que a vida consente, Como muralha por entre as ameias, Deixam vento correr e nada sente, A vida de outros ninhos ou colmeias.
Nem concebi tão sentido estandarte, Dos exércitos que marcham em mim, Ao toque de tambor tombam no fim, Jazem nos campos verdes destarte. Qual vento que soprado de jeito triste, Varre as folhas secas velhas, caídas, Tudo o que a vida fácil nos consente, Será portões abrir daqui saídas.
E se portas de feixes foram feitas, De luzes, histórias de livros por encanto, Se abrem ao negro se sente de espanto, Sorrirei porque são todas perfeitas. E não sentir a chuva que nos cai, O sol, a Lua, os rios, os mares, a alma, Já que ninguém com ela fala e vai, Vou eu, e vou sereno na doce calma.
Já nada digo; é seguimento meu, Da anarquia que dentro me reina, Que ao caos, à perdição me treina, Tudo meu que ainda não morreu. Já deveria esmorecer naa idade, Que sumisso se é ao que nos pesa, Dou ao paladino da mocidade, O meu lugar, como jantar à mesa.
Noite de Rembrandt que a luz revolve, Como das velas fumo se propaga, Na ténue chama, frágil e se apaga, Invade pequena luz e a envolve. Mas fôlego nestas vias ainda respiro, De ver o que desejo tanto ver, Nem que seja a floresta meu retiro, Sem toca, abrigo feito p'ra me esconder.
Da fonte etérea não bebi ainda, Que revigora a alma, a epiderme, Cantos tenho ainda mares que reme, Contrária direcção onde tudo finda. E colho, é claro, a própria claridade, Os gestos, ventos, tiques de outra gente, Carpir tudo é sentir a liberdade, Um rio forte fluido e decorrente.
Saiba eu um dia ter incerto, Perdão por ser quem sou, bizarro e triste. Alma minha que nunca a ouviste, Chorar por ser assim nada desperto.
Saiba o mundo mesmo o que mais amo, Clareira tenho onde me resguardo, Longe d´ árvores onde folhas guardo, De outono, que por quem ninguém eu chamo.
Durmo vivo e tanto isso me inquieta, Vai estando perto mais de mim a morte, Com rostos que soube a negra sorte, Deixando minha alma de boca aberta.
Nem sei que sonhos tenho ainda em mim, Sei que inúmeros são e tempo curto, Me resta, tempo que a ele não furto, Sentir só o perfume leve do carmim;
Estar rosto rendindo ao sol que quente, Tem leve fascínio de azul celeste, Ah, porque a mim tu vida não deste, A mim que me odeio - o caos na mente.
Pesa-me mais esta continuidade, Eterno preso ao leme que não volta, Ao mar de espessa água de ira solta, De coléricas ondas da tempestade.
Nego sempre o querer néscio de quem, Sequer entrou nesta mansão vazia, Ah, ser vil, ninguém a alma esvazia, Que vontade conserve quem nele a tem.
Fustigo quando ao espelho não me vejo, O globo inteiro porque não me assenta, Bem, manto que vela e se apresenta, A Morte de hora incerta e negro beijo.
Olho pelos meandros de olhos baços, Turvados pela oculta e verdadeira, Das coisas a realeza desta canseira, Bruma e névoa cedem a nós abraços.
Não me basta ver quem no palco é rei, Terei de ver que esconde essas cortinas, Quero assistir às orgias de meninas, Fartas como eu porque nada sei.
Nada, seca, mirra, mata, esmaga Perra, gasta, cansa num desespero, "Então comigo vem", 'inda não quero, Porque espero por quem me afaga.
E se por cá eu escolho, então me digo, Que apenas com olhar ela trespasso, À outra face não dou eu um passo, Darei à vida, mas hoje... não consigo.
Este amor que tenho, minha ruína Será buraco aberto meu na terra, Porque vou em busca do que fascina, Esqueço-me da fome que me desterra, Toda a longa hora de rotina, Depois do posto sol que o dia encerra.
Libera-me, minha Musa, dos deveres, Que as horas me engolem no que quero, Serena fica, por não me perderes, Por querer só ver o mar belo de Homero. Ponto minúsculo dos meus mil quereres, No minúsculo ponto que amo, me esmero.
Sabes que a escassa minha virtude, De ti advém como advém as estrelas, Das quais conto sem que de mim cuide, Por refulgires mais do que todas elas, Não ignoro se espírito meu cá mude, Como vigio a luz frágil das velas.
Nada se me revela e eu me afasto, Num portentoso gesto, cortinas escuras, Que dos meus olhos esconde meu repasto Destas doenças de alma, que sã curas, E ser eu só somente não me basto, Por não colher as uvas mais maduras.
Essa besta ociosa que dorme em ti, Acorda-a com água gelada na face, Pode ser que assim o tempo passe, Em fúrias de fogo maiores que vi. Pica-a no dorso! Depressa, com força, Maior que nos versos com que a invocas, Talvez teu pescoço a besta te torça, Ou não - bestas despertas são poucas. Açoita-a, maltrata-a, despreza-a e deixa, Que ela, dragão dum sonho acordado, Deixa à volta o mundo queimado, Fúria que escalda e a porta não fecha. Deixa que o Amor te resuma, As duas faces - eclipse - não uma.
Dá graças por tu não teres vivido, Na antiga Pompeia, ou El Dourado, Por ter a Mae Natura resolvido, Do seu mapa lugares ter riscado. Dá graças por teres mísero país, Não como quem não pátria tem, Na terra húmida não ter raiz, Como não ter um filho a sua Mãe. Mas vivamos, plácidos e tranquilos, Sem desesperos nem letargias, Porque dos deuses somos seus pupilos, Que escrevam eles as profecias. Também o Sol tem sua rotina, E a Lua tem um sonho de menina.