A noite em que foi dia
Junho 30, 2008
Foi como não te visse há imenso tempo,
E não te amasse bem como devia
Foi como a tempestade de Dezembro,
Varrendo a terra inteira e a Poesia.
Foi como se teus braços vigorosos,
Chamassem pelos meus de boca aberta
Foi como se meus beijos langorosos
Fossem a solidão de ilha deserta.
Foi como se teu seio arfasse como
A terra, quando geme de cansaço,
E estremecesse a minha mão no pomo,
E nele repousasse meu abraço.
Foi como o sol andar no teleférico
Na cúpula celeste azul sem fim,
Domando imperioso o mundo esférico,
E só pra ti olhasse e não pra mim.
É como se esculpisse pedra ardência
Pungente quando a fome na arte impele
É como vaguear sem consciência,
Nas lisas planuras da tua pele
E todo este contacto voluptuoso,
Trouxesse numa imagem reluzente
As mais maviosas flores e mavioso
O espírito se tornasse finalmente.
E como se ficasse em mim gravado
Fragrâncias de amor feito ao fim da tarde
Encontro em nosso leito decorado
Um corpo de sereia que em mim arde.
Foi nesta noite em que a noite foi dia
Um pálido reflexo do que somos,
Deixando o odor no quarto a maresia
Em que escreveu-se Vida em vários tomos.