Mais um dia!
Junho 25, 2008
Mais uma volta igual no carrossel
Sem sol primaveril monumental
Mais uma nota solta em minha pele
Em si bemol soando sempre igual
Mais uma voz macia que me embala
O berço como o canto da sereia
Mais uma atroz mensagem que nos cala
Como maligno encanto de Medeia.
Mais um quadro roubado do museu
Que espalha mais a fama do pintor,
Mais um divino cântico de Orfeu
Que procurou no Inferno o seu Amor.
Mais um telefonema uma mensagem
Uma voz do outro lado que reclama
Um diálogo na estranha linguagem
Como se convidassem para a cama.
Mais um pungente pranto de viúva
Regando a dor com lágrimas levando
A vida neste Inverno ao frio à chuva
E os ventos glaciares suportando.
Mais um dia que passa e… outro dia
E outro sem que encontre nisto fim,
Mais uma noite em branco que despia
O manto a virgem Lua só pra mim.
Mais uma esmola dada a um mendigo
Gritando em linhas tortas a verdade
Que tudo é uma mentira, meu amigo
E isto é a verdadeira Liberdade!
Mais uma nova cura descoberta
Para a velha doença que se anula,
Outra nascendo e outra ferida aberta
Mais uma divindade que se adula.
Mais uma história obscura mal contada
Na densa e baça névoa da ignorância
E uma promessa não cumprida e dada
Alimentando à gente o lume a ânsia.
Mais uma coisa e logo outra seguida
Entrando ar nos pulmões aos solavancos
Mais uma e outra causa conseguida
E a morte repelida noutros flancos.
E a Vida é uma constante bebedeira
E sofre angustiada de alcoolismo
Pedindo mais um copo só à beira
Da catástrofe da Morte do abismo.