A dádiva
Junho 12, 2008
Olhos acostumados a outros olhares,
Uns finos braços brônzeos, belo pescoço
De cisne delicado e esguio dorso,
Idolatrado corpo em mil altares.
Flutua como Vénus que puxada,
por carro de alvos cisnes e serena
ventos e devolve atmosfera amena,,
se sente a sorte em si e abençoada,
E os lábios dizem mais que os versos todos,
Num modulado canto pelas flautas
Tocadas na floresta ouro nas pautas
Se os deuses cantam neste brandos modos.
Ó sereia, que manto envolve a graça,
Que é tua, derramada áurea rainha
Talvez Vénus a estrela alva detinha,
Na escolha em que nem toda a gente abraça.
Seus passos de veludo me parecem
Um leve andar… planar nas águas puras
Frisando-as, invocando-as com ternuras
Que a chusma inteira encanta e acalma e esquecem.
Dois lagos transparentes nos seus olhos,
Intrépidos imóveis como estrelas
As mãos de ave mimosa, que envolvê-las
Alívio dão aos mais duros sobrolhos.
Que flor enfim não possa então colher,
Que flor num ermo campo de bom trato
Que flor enfim que fonte que regato
A murmurar nas pedras a escorrer.
E nela em tempos vi cobra capelo,
Perigosa, se enrolando noutras cobras
Mas eis que o tempo tem vincadas dobras
No ser. Ó voraz tempo, és bom, és belo!