De madrugada
Novembro 30, 2007
Ainda nem sequer rompeu o dia,
Nem a princesa Aurora abriu as portas,
As horas soam mortas,
Não vejo a poesia,
Lúgubre retracto de quem verte,
As lágrimas salgadas por não ter-te.
Musa, porque espalhas com teu rosto,
As rubras cores, tímida e distante,
Pelos campos com gosto,
Neste frio cortante,
Rosado tom, com gesto purpurino,
Do mundo as coisas com jeito menino.
Silêncio! Pela voz da madrugada,
Embrenho-me na sombra em pensamento,
De ter-te aprisionada,
Nos meus braços, isento
Do ter o meu dever de hoje cumprido,
Não ver no verso um traço repetido.
Um surdo latejar de sangue espesso,
Borbulha neste império frágil, doce,
Já rompe o sol. Esqueço
À volta o que me trouxe,
Rompendo o meu amor as hostes negras,
Se com teus olhos aos meus beijo entregas.
E o espesso nevoeiro por encanto,
Fantasmagórico, calmo, debanda
O fino, húmido manto,
Dança, ergue-se e anda,
Nos passeios, nos rostos entre a gente,
Surgindo o Sol já calmo e lentamente.
Fixas, as estrelas permanecem,
Como um colar de pérolas da Lua,
No seu pescoço, e tecem,
Enigmas. Mas amua,
Co ’ as fieis seguidoras tão brilhantes,
Deixando-me saudades coruscantes.
Estarei à vossa espera, à mesma hora,
(Estou sempre à mesma hora com meus olhos,
Líquidos, sem demora)
Colhendo o Belo aos molhos,
Fazendo um colar novo à minha amada,
E com meus versos vejo-a embelezada.