Estrela Cadente
Novembro 26, 2007
Nem céu azul macio, suave, acolhe,
Meu corpo envolto em nada, envolto em bruma,
Admiro quem no mar um rumo escolhe,
Admiro quem à Eternidade ruma.
«Traça, firme, um rumo sempre certo!»
Alguém me grita sem que me conheça,
Um verdadeiro herói, um desconcerto,
Não tendo alguém que o ame ou reconheça.
Ouvir, seguir os passos sempre certos,
Guiado pela máquina do mundo,
Sentir mesmo as mesmas dores e apertos,
Mesmo vivendo cego e moribundo.
Vaidade ser para alguém uma estrela,
Um guia, confiando a própria Morte,
Fingir ter enganado a sentinela,
Que guarda a mansão de ouro desta Sorte.
Meu pensamento alcança o promontório,
Onde furioso, o mar, embate e esmurra
No meu papel, eu escrevo o verso inglório,
Cantando-o à minha Musa que me empurra.
Salva-me do abismo, amada e Musa,
Estende-me a tua mão que me estendeste,
No reino vicioso da medusa,
Que embaraço me deu e tu não deste.
Pois sinto a mão do tédio no meu ombro,
Pousar, tão amistoso em simpatia,
Falsa me levando num assombra,
Cansar-me com enfado e Poesia.
O Tédio quer o jorro do meu sangue,
Detém o Dom das Trevas, os seus olhos
Alcançam meu pescoço, corpo exangue,
Lançando-me vazio entre os escolhos.
Sinto um ardor nas pálpebras pesadas,
A víbora entre as pernas, se enroscando,
Sinto um caos na mente, e arrancadas
Todas as flores que foste tratando.
Sou papel branco imaculado, e o tédio
Borrão grotesco, lama ou nojo ou Nada,
Gerada a minha dor foi neste assédio,
Sofrendo deste amor forte emboscada.
Dois mundos, no meu peito, colidindo,
Entrechocando-se à frente de escudos
E a minha mente igual não vai explodindo,
Em mundos áridos cegos e mudos.