Entre o Céu e a Terra
Julho 13, 2010
Traí a confiança da Musa antiga e bela,
Nascida como um vento nascido no oriente,
Não basta ter o brilho etéreo de uma estrela,
Sabe-me muito a pouco ser somente gente.
Acolhe-me, no leito, tu que não te vejo
Que me disseste um dia haver um outro em mim,
Abrindo-me os portões pesados do desejo
como à noite se solta o cheiro do jasmim.
Perdoa-me! Que faço com a doce vida
Como se inútil fosse lúdico brinquedo,
Vi minha vida sempre a ser por ti vencida
Fui recorrer a ti para espantar o medo.
Na infância tempo havia, pra deitar-me e ver,
Num público jardim com a relva cortada,
E a folhagem dos choupos no Outono a perecer
“Eu sou feliz”, pensava, sem ter minha amada.
Amor era o que via, era o que a flor mostrava,
Era o que respirava, o ar, o sol, o mar
Era de tarde a areia fina que escaldava
E me aquecia dentro a alma a resvalar.
Era fechar meus olhos contra o sol e ver,
Pontos minúsculos de cores desiguais
E aquele azul do céu vibrante preencher
O espaço, cheio de culpas e dúvidas fatais.
Era quando chovia e o sol ao mesmo tempo
Nos dava o Arco Íris nítido, perfeito,
Que ali sonhava andar, no fim do mês Setembro,
Que o Verão se curvava ao Outono com respeito.
E as ruas enchiam-se de folhas espalhadas,
Na terra borrifada por chuva miúda,
e as árvores desnudas, como atormentadas
Pediam com pendentes ramos por ajuda.
Saudades, quando as ruas eram infantários,
E não se tinha medo de brincar na rua,
E os nossos jogos em compassos quaternários
Eram o nosso curso, o curso igual à Lua.