Torre de Babel
Março 25, 2008
Se o tempo determina a minha idade,
Quem meu amor sincero determina?
Tu, e tu também, bela bonina
Nos campos verdejantes de saudade?
É que, na flor de idade, amadureço
Esperando, ignóbil, por melhor começo.
Dançante sombra na parede, espírito
Colado ao longo muro cor de inferno,
Versos procelosos tenho dito,
Não sendo melhor manto neste inverno.
Lábios gretados, secos, resequidos
Nunca, de amor, avaros, impedidos.
Pulsar inquieto, bomba do meu sangue,
Velozes rios escorrem vermelhos,
Tentando reanimar minha alma exangue,
Dos meus sentidos de quinhentos velhos,
Tão cedo, na jornada, na partida
Sem volta, hora marcada, viagem de ida.
Despi meu manto gasto e fui deitar-me,
Numa rocha aquecida pelo sol,
Quis-me na languidez desamparar-me,
Metido no meu corpo fraco e mole,
Guardando o que meus olhos me oferecem,
Cuspindo ao vento versos que me aquecem.
O térreo cheiro, o hálito do mar,
Harmoniosos cantos decorei,
De exóticas aves a procriar
Isto tudo dentro de mim guardei,
Tentando trasladar para o papel
Da minha mente, Torre de Babel.
Os cristalinos fios de água pura,
Brotada lá da boca da montanha,
Numa contemplação que nunca dura,
Girava em minha alma roda de azenha,
Moendo a mais madura espiga de ouro,
Meu pão, meu verso, meu lindo tesouro.
Coragem! Falta pouco. É já ali
Pra lá daquela linha do horizonte,
Encontra-se o que em vida eu nunca vi.
Que aguarde um pouco mais, esse Aqueronte!
A vida bela embala-me: a saudade
E nem sequer pensei numa Verdade.