Ode à flor
Janeiro 22, 2008
Ó rosa fresca e pura,
Que nasces nos mais estranhos recantos,
Dá-me um ardor, ternura,
Amanso o verso que entristece os cantos,
Dos anjos que não tangem,
Liras, que me arranjem,
Balsâmicas notas para meus prantos.
Dália oferecida:
Como abres, radiante, esguios braços,
A flor que doma e lida,
As rubras hostes, medos, embaraços,
Que ânsias predominam,
E as cores me fascinam,
Volvendo em leves, finos, rudes traços.
Tu, orquídea louca,
Seduzes os românticos poetas,
Abres a fatal boca,
Por ti, Eros dispara afiadas setas
De quem te beija e prende,
Perdido e não te entende,
Guiados para abismos, negras metas.
Túlipa holandesa,
Que enches os campos verdes de mil cores,
De mansa natureza,
Suportando os caprichos e rigores
De Outonos invernais,
De invernos outonais,
Neste papel imprime mil favores.
E tu, camélia rara,
Das coras e das formas tão diversas,
Nunca no odor avara,
Com quanto ardor que tu tanto dispersas,
Nos olhos radiantes,
Tristes, penetrantes,
Ferindo incautamente, almas adversas.
Virginal margarida,
Que a frontes curvas quando beija a abelha,
A vénia embevecida,
Tão bela, reacendendo uma centelha,
Ondulando com vento,
Levando meu tormento.
Beija a caduca estrofe, seca e velha.
Floresce no poema,
A rara flor nascida em quente estio,
De excelso e livre tema,
Sentindo a mansidão dum amplo rio,
Plácido e banhando,
As terras perfurando,
Beijando finalmente o mar bravio.