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POESIA ÀS ESCONDIDAS

Poemas escritos por António Só

O Homem e o Corvo

Janeiro 16, 2008

Um citadino andando sempre em frente,
Pelas verdes colinas caminhava,
Numa constância louca contra o Tempo,
Pensando que chagas, dores curava.
A grossa chuva, o vento, o frio cortante,
A fúria verdejante lhe mostrava,
Guardando a Natureza os seus mistérios,
Que histórias demoníacas lembrava.
 
Nos trilhos lamacentos, pedregosos,
Nada de apaixonante o inspirava,
Sem mácula, distante e sonolento,
O pobre homem no bosque se embrenhava,
Ouvindo as gotas grossas embaterem,
Nas folhas, pranto imenso desabava,
Nas árvores copadas de esperança,
Assim o céu a Terra fustigava.
 
"Bem sei onde quero ir, mas não encontro,
Caminho certo", assim ele pensava,
Nunca se arrepiando do caminho,
Já a terra tortuosa serpenteava,
Levando-o para onde nunca ele foi,
Os choros incessantes lhe tapava,
A vista, procurando uma vivalma,
Que raramente por ali passava.
 
Mas de repente, um roçagar de plumas,
Vencia os ares. À escuta, ele parou.
Voava um negro corvo que com ele,
Misteriosamente lhe falou.
Incrédulo, o pobre homem confundiu,
Aquele lugar ermo, e escutou,
Donde vinha aquela voz que ele ouvia,
E trémulo, num canto se ocultou.
 
"Quem és, que do grasnar, oiço uma voz?",
Pergunta ao corvo, louco lhe lançava.
"Sou quem herdou dos vivos uma alma,
Que enquanto vivo os outros ajudava.”
Hesitante, trémulo e confuso,
O homem, no que o corvo disse, estava
A ver porque o seguia. E em vez disso,
Lembrou-se que ao lugar nunca chegava.
 
“Ajudo-te, se a mim tu me ajudares”
Enigmático o corvo assim dizia,
E o homem, sem escolha, sem caminho,
Assim, estático, o animal ouvia:
“Venho do mundo dos sonhos onde,
Falava antiga e maga profecia,
Que tudo o que sonhares acontece,
Sem música, nem cor, sem poesia.”
 
Durante muito tempo prolongou-se,
Conversa entre os dois. Já Apolo virava
A direcção dos seus corcéis fogosos,
No mar piscoso, rubro, mergulhava.
Nem versos imortais cantam as coisas,
Sobrenaturais, que o corvo grasnava.
Surgiu das árvores nuas, desgrenhadas,
A Lua em seu esplendor os espantava.
 
“Vou ajudar-te a encontrar caminho,
Que a ti próprio traçaste.”, lhe lançava
Oferta ao viajante duvidoso,
Que quase o seu caminho arrepiava.
“Porque me ajudas, ser do outro lado?”
Assim, ao corvo, o homem perguntava.”
“Porque vais para o lado donde venho,
E agora, eu não vou só!”... assim grasnava.  

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